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domingo, 5 de maio de 2013

Antigo e moderno habitam Monte Alegre, em Piracicaba

iG Paulista - 05/05/2013 
O bairro rural de Monte Alegre, em Piracicaba, é o exemplo clássico da transformação do campo. As ruelas ainda preservam casinhas antigas, construídas no começo do século passado ao redor de uma usina imponente, que controlava uma imensidão de canaviais.Hoje, quase nada resta da velha usina. A chaminé imensa brota de ruínas. E a avenida principal, que leva o nome do usineiro Pedro Morganti, preserva ao longo de 200 metros as últimas moradias de colonos, que aos poucos vão sendo restauradas com dinheiro particular.
Pouco menos de 500 moradores ainda vivem no bairro. Não se vê crianças e adolescentes. E, movimento mesmo, é possível notar no Restaurante Paulino, que na hora do almoço é tomado por funcionários, pesquisadores e diretores do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), localizado a menos de três quilômetros dali. De uns cinco anos para cá, contam os velhos moradores, começaram a aparecer carrões e gente engravatada. Que mostram a nova cara da roça.
Aquela paisagem, onde existia uma das usinas pioneiras do milionário ciclo canavieiro, agora abriga um centro de pesquisas onde são desenvolvidas espécies geneticamente modificadas da cana.
No mesmo hectare cultivado, se produz mais e melhor. E a figura do lavrador, de chapelão e facão, é cada dia mais rara por aquelas bandas. O novo Monte Alegre é o centro de uma região valorizada, onde brotam condomínios residenciais luxuosos e chácaras para o lazer.
O bairro, no seu apogeu, chegou a ter quase 3,5 mil moradores. Mas Morganti partiu deste mundo em 1941, as roças se diversificaram e a indústria se tornou a grande fonte geradora de emprego e renda por toda a região. Assim, a Usina Monte Alegre encerrou suas atividades em 1981, e a gleba passou a ser administradas por empresas do segmento imobiliário.
Uma delas é a Usina de Empreendimentos, que vende terrenos nos novos condomínios fechados, mas que também banca, sem verbas públicas, as obras de restauro das centenárias casas de colono. Um dos imóveis, por exemplo, foi reformado para ser o escritório da empresa. E as intervenções se espalham pelos prédios vizinhos. “Onde portas e janelas estavam podres, tivemos o capricho de fabricar peças novas, idênticas às originais. Respeitamos imóveis que são tombados como patrimônio público pela Prefeitura”, afirma Helen Graça, representante da empresa no bairro.
Um antigo funcionário da usina, Onofre Cândido de Souza Filho, guarda as chaves da charmosa Capela de São Pedro, construída em terras da usina na década de 30. A igrejinha, diz orgulhoso, preserva uma acervo de afrescos do badalado modernista Alfredo Volpi, que moveu os pincéis ali por Monte Alegre antes de ser um artista famoso. “Ah, o mundo muda. Chegam a tecnologia, o luxo. Mas Monte Alegre vai ser, para sempre, esse lugarzinho simples, encantador”, fala.

Memória viva

A memória da usina também faz parte do cotidiano dos vizinhos José Luiz Tonin, de 71 anos, e Durval Kess, de 63, que moram em um bequinho: a rua acaba em um muro enfeitado de primaveras coloridas.
O primeiro, Tonin, nasceu por ali, cresceu, se casou, teve filhos e netos. Mas nunca arredou o pé. Começou trabalhando garotinho como empacotador de açúcar refinado e permaneceu na usina até se aposentar. A filharada se mandou para a cidade, mas ele ficou.
Passa o dia contando causos e mostrando fotos que ele mesmo fez da usina e do bairro. “Aqui é bom. Só não tem criança. Só velhinho anda pela calçada. E ninguém morre”, gargalha.
O vizinho Kess, que foi maquinista da usina, usa o tempo para reproduzir, em metal, miniaturas de locomotivas e vagões da empresa. E que ninguém apareça oferecendo dinheiro pelas peças. “Não, a história da gente não se vende. Quem nasceu em Monte Alegre, como eu, sabe que não vai ser feliz em outro lugar”, diz, convicto.

Pesquisas de ponta bem no meio da roça

Centro de Tecnologia de primeiro mundo produz variedades geneticamente modificadas da cana
A menos de cinco minutos de Monte Alegre fica o imponente Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), considerado o maior centro de pesquisa em cana-de-açúcar do mundo.
A entidade foi fundada em 1969 por um grupo de usineiros da região de Piracicaba interessado em aprimorar a produção e agregar qualidade.
Em 2004, o CTC entrou em uma nova era e foi reestruturado para se tornar um polo de desenvolvimento e integração de tecnologias da indústria sucroenergética, Hoje, é uma empresa moderna, independente, administrada por empreendedores que respondem por nada menos que 60% da cana-de-açúcar moída na região Centro-Sul do Brasil.
Cerca de 350 profissionais integram o quadro de colaboradores. Mais da metade é composta por mestres e doutores. As pesquisas desenvolvidas já colaboraram para dobrar a produtividade local do campo, por exemplo, ao mesmo tempo em que despencaram os custos de produção.
As novas variedades, por sinal, permitem que hoje em dia os canaviais brasileiros se espalhem por nada menos que 3 milhões de hectares. O projeto mais recente do CTC é a Série 9000, composta por variedades de cana-de-açúcar desenvolvidas para regiões específicas do cerrado.
Quando os investimentos passaram a se concentrar no desenvolvimento de variedades geneticamente modificadas, o CTC investiu no maior banco mundial de germoplasma da cana-de açúcar, na cidade de Camamu (BA). Também projeta, no Interior paulista, a nova geração de usinas.
O grupo conta com parcerias com universidades, empresas e agências de fomento à pesquisa. Ao longo de toda a sua história, o CTC já recebeu investimentos da ordem de R$ 367 milhões.

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