terça-feira, 25 de agosto de 2015

ENCONTRO DE FERAS DO HUMOR NO SALÃO



Com certeza, em eventos como o Salão de Humor, que reuni artistas de diversos lugares, acabam acontecendo encontros entre mestres e seus admirados, que podem até serem também artistas do humor. Foi o que aconteceu com Daniel Ponciano, que reside em Piracicaba, trabalha com humor gráfico, faz parte do Salão de Humor de Piracicaba, participou do juri do Salãozinho de Humor e foi um dos selecionados, com dois trabalhos, no 42º Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

Ponciano relata como foi seu primeiro encontro com Laerte, cartunista e chargista, que tanto admira. Sonho de muitos outros realizado por ele.


Laerte Coutinho (64 anos) é considerada uma das artistas mais importantes na área, assumiu a transexualidade, aos 57 anos.


MINHA PRIMEIRA VEZ COM A LAERTE

Daniel Ponciano

“Eu tava ali ela também estava ali”. O verso dessa canção ecoou na minha cabeça na abertura do 42º Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Fiquei de longe olhando, bolando um jeito para uma aproximação até que um “chegado me encorajou a chegar junto dela”. É, antes de chegar para conversar com Laerte, compartilhei com um amigo sobre a minha dificuldade. O medo de errar, o que falar, como lidar? Coisas típicas de primeiro encontro.

Minha admiração começa pelo trabalho que a cartunista produziu aos longos dos seus 40 anos de produção, aos quais passei a conhecer na minha adolescência nas tiras que lia como entretenimento chegando as charges e os cartuns, fora os montes de entrevistas que li e assisti.

Os brincos e anéis dela refletia a luz dos flashes o que inibia ainda mais a minha aproximação. Era constantes os pedidos para a foto, Laerte na maior simpatia atendia a todos. Mas (eu) precisava “chegar”.

Cheguei e me apresentei:

- Eu sou…

Ah tá!…

Prossegui...Te admiro como artista e essa sua nova fase...como posso dizer?….

Me ameaçou em tom de brincadeira….

- Olha lá o que você vai falar?

O segundo momento se deu quando voltávamos no mesmo carro, eu para casa e ela para o hotel, junto com amigos e dentro do contexto que encontrávamos perguntei:

- Você dirige? Veio a resposta…

Fiz uma espécie de comentário pergunta, deve ser difícil dirigir em São Paulo?

- Difícil porque? Comparando com o que?

- Usei como argumento uma notícia recente.

Ela prosseguiu.

- E você acredita em tudo que lê?

Percebi que Laerte é uma pessoa problematizadora. Ela faz questionamentos ou coloca dúvidas. A pessoa problematizadora impõe uma convivência não padronizada e não conflituosa, assim não corremos o risco de desaguar no subjetivismo puro que ameaça a convivência social.

Vide as suas produções.

Concordo com o jornalista Sérgio Gomes, quando disse que o vestir de “mulher do Laerte” é também algo político.

Com essa atitude da artista, refletiremos de maneira crítica como essas tendências (LGBT) foram tratadas ao longo dos anos, principalmente no Brasil. O vestir de mulher da Laerte torna-se uma problematização para a sociedade.

E fomos nós…

Deixamos um amigo na rodoviária e logo chegamos ao hotel.

Me ofereci para abrir a porta do carro para ela.

-Nossa até ganhei uma porta aberta!

Sou um admirador romântico.

Cheguei em casa louco para contar tudo para minha mulher que estava dormindo.

Conhecer a Laerte é a realização de um sonho, acredito ser o de muitos que produz humor gráfico.

Um momento para ficar guardado na lembrança.

Se eu tirei foto com a Laerte? Claro que sim!





Trabalhos de Ponciano selecionados no 42º Salão Internacional de Humor de Piracicaba/2015


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